25 fevereiro, 2010

Mudança

Fui de mala e cuia para o Wordpress.

http://amandaaudi.wordpress.com/

:)

24 fevereiro, 2010

Spray para esquecer

Ele existe e está à venda por 25 pilas: http://supermarkethq.com/product/edit-your-consciousness

23 fevereiro, 2010

Um bichinho chamado...

Estou tentando migrar para o Wordpress, mas enquanto não arrumo o layout de um jeito bonitinho, continuo por aqui.

Queria falar sobre a maior merda de todos os tempos. E quando eu digo isso, quero dizer A MAIOR MERDA DE TODOS OS TEMPOS. Assim, em caps lock. Bom, estou falando sobre o ciúmes. E pra começo de conversa, eu nem me considero assim tão ciumenta, pelo menos não sou do tipo que dá barraco e esse tipo de coisa que dá vergonha alheia. Na verdade, eu nem mesmo tenho motivos para rodar a baiana por aí.

O meu ponto é que não importa o quão ciumento você é, não importam as atitudes do seu namorado/marido/rolo. O buraco é bem mais embaixo. Se você já sentiu ciúmes de verdade alguma vez na vida deve entender do que estou falando. Sabe que não vale só para relacionamentos amorosos.

Acho que uma das maiores besteiras que já ouvi dizer é aquele negócio de que "quem ama, cuida". Meu nêgo, ciúmes não tem nada a ver com cuidar. E, na real, não tem a ver nem mesmo com a outra pessoa. Ele diz respeito só a você. Sobre cuidar de você mesmo. Porque se você sente ciúmes de alguém, isso quer dizer que você ama a tal pessoa e quer mantê-la perto de si. Quer dizer, mais ou menos, que você tem um medo absurdo de perder essa pessoa e daí alavancar aquele monte de coisa ruim que a situação carrega consigo: solidão, descrença, potes e potes de sorvetes e inevitáveis péssimas soluções para a dor, como: sair para baladas que você nunca iria antes; ter conversas intermináveis com os amigos sobre o que você errou (e consequentemente perder um monte de amigos); fantasiar namoros e casamentos felizes com gente aleatória que você encontra no ponto de ônibus; enfim. Tudo que te leve de volta ao ciclo interminável de choradeira, potes de sorvete e alta sensibilidade a músicas românticas. Um saco.

Acho que é por isso que a gente sente ciúmes (estou falando aqui do ciúmes normal, que todo mundo sente vez ou outra, não daquele louco e obsessivo). É tudo por causa de um enorme amor-próprio - e talvez uma pitada de auto-preservação. E a gente se protege de maneira proporcional à intensidade do amor e dependência que sentimos em relação a tal pessoa.

Tenho ciúmes do meu namorado não porque ache que ele vai me trair ou me deixar, mas porque se ele fizer isso algum dia, aí, meu filho, não sei o que vai acontecer. (melodrama sim, deixa eu)

21 fevereiro, 2010

Garrincha e Dexter, fiquem comigo

Sabe aquele tipo de propaganda de incentivo à leitura que diz que, ao ler um livro, você se apaixona pelos personagens e sente falta deles depois do final? Como se eles se tornassem parte da sua família ou amigos íntimos? Clichê, né.

Pois é, mas nos últimos tempos eu tenho passado por uma boa dose desse tipo de 'infância feelings'. É que agora se tornou quase uma transgressão ler um livro que não seja sobre o MST (o tema do meu livro-reportagem a ser entregue na metade deste ano). Talvez seja por isso que tenha se tornado uma coisa tão boa.

Agora estou muito companheira do Garrincha. A biografia dele (Estrela solitária), escrita pelo Ruy Castro, é um dos poucos livros que me deixam emocionada a ponto de derramar lágrimas em vários momentos. E olha que eu nem terminei ainda. É por isso que eu disse que tem a ver com a infância: quando eu era pequena, não queria terminar os livros porque tinha medo das saudades que viriam depois. Eu ficaria sozinha de novo, no meu mundinho, sem nenhuma daquelas pessoas que me acompanharam tão de perto por um tempo. E agora é a mesma coisa. Não quero dizer tchau pro Garrincha.

Outra coisa é Dexter. Não tem nada a ver com livros, mas eu achei a série foda pra caralho desde a primeira temporada. Ano passado, meu irmão me emprestou os DVDs com altas recomendações. Eu assisti dois episódios, achei tosco e saí falando mal pra geral. Já esse ano, com a quarta temporada, rolava uma comoção geral no twitter a cada episódio. Fiquei curiosa e acabei dando uma segunda chance. Viciei e assisti todas as temporadas de uma vez em uma semana.

O mais legal, na minha opinião, é que agora tem várias séries que perderam aquele estigma de 'novela' e se tornaram tão boas e complexas quanto um bom filme. Boto minha mão no fogo pelo roteiro e as atuações de Dexter. E já estou com saudades. Pelo menos vai rolar uma quinta temporada pra gente se reencontrar.

20 fevereiro, 2010

Conformismo e outros demônios

É engraçado como se precisa sempre de um tapa na cara pra você perceber uma coisa que vem te incomodando há muito, muito tempo. Está lá, você consegue ver, é palpável. Mas etudo bem, uma pequena distração basta para que saia da zona de preocupação.

Aí vem alguém e te diz. Parece que você nunca pensou sobre aquilo antes. Parece que você nunca sentiu a dor pungente daquele remorso no peito. Parece mesmo que é algo impensável pra você, uma ofensa até.

E então você determina: "vou mudar". Dá meia volta, faz plano infalíveis sobre como será diferente no futuro. E pensa: "vou começar na segunda-feira".

20 janeiro, 2010



Sid Vicious, solo, My way.

O garoto que representa o espírito de uma época. Os holofotes caem sobre ele e ele faz aquilo que sabe fazer - todos os seus gestos ganham significados extremos. Uma vida transformada em espetáculo: vícios, violência, paixões sujas, a rebeldia contra o sistema transmutada em dor pungente, que vira ira juvenil. Ele está lá, derretendo-se embaixo das luzes e a plateia aplaude. É o zeitgeist.

Deve ser um dos vídeos mais tristes que já vi na vida.

28 dezembro, 2009

2009

seguindo a tradição do blog, faço agora a minha retrospectiva sobre o ano que está acabando. bom, não é exatamente uma "tradição do blog" - visto que fiz pela primeira vez no ano passado - mas eu curto esse tipo de coisa brega porque é um baita clichê e eu amo clichês, de verdade mesmo.

vamos lá.

vejo a galera reclamando de 2009 por aí em todo lugar, no twitter, no orkut, no bar, na vida toda. olha, nada contra quem teve um ano ruim, mas é que o meu foi tão bom! ele não foi necessariamente feliz o tempo inteiro, mas foi intenso. definitivamente foi intenso.

no começo do ano, a loucura. estava em um trabalho que não me deixava feliz, então larguei e fui viver a vida. o bom é que tinha muita gente numa fase parecida e todos dispostos a aguentar a labuta do bar nosso de cada dia. nessa época eu fiz muita merda. tipo acordar uma hora atrasada no primeiro dia do estágio novo com uma ressaca dos infernos. hehe. mas nossa... dá saudade. era bom. foi aí que eu adotei meu gatinho, que até hoje é o ser mais odiado por todo mundo, menos por mim. quer dizer, é uma gata, mas nós acostumamos a chamá-lo de gato. beirut. também foi mais ou menos por essa época que eu conheci o nicola.

no meio do ano, o amor. nos primeiros dias, era aquela coisa estranha. a gente era coleguinha e se dava bem, mas sempre havia aquela vontade de conversar melhor, se conhecer mais... enfim, foi ele que nos apresentou ao bill, e isso por si só já bastaria. mas é claro que havia mais. e foi num dia de calor, sentados no chão de um estacionamento, depois de conhaque & rollmops, que tudo começou. e aí veio o medo, porque o meu carinho por ele não parava de crescer e pô, sofrer por amor é foda, né? dá medinho. mas o tempo passou, o medo também, foi ficando só aquela coisa boa que a gente tem quando tá junto. tudo foi se desenrolando de uma maneira tão gostosa, com tudo a seu tempo, que não daria pra, hoje, não ser do jeito que é. eu amo aquele cara e me sinto realmente feliz com ele.

durante todo o ano, trabalhei bastante. fiz coisas das quais me orgulho, outras nem tanto. comandei a TV comunicação e foi um dos aprendizados mais prazeirosos e cansativos da vida. tenho saudades de ser editora-chefe, haha. fiz estágio por alguns meses, depois que larguei o emprego do começo do ano, mas não deu muito certo. saí pra entrar em outro, na tv ufpr, e aí a coisa desenrolou. a experiência foi muito boa. fiz frilas e projetos paralelos, estudei bastante... foi duro. mas foi bom. :)

olha, juro que passei por vários perrengues nesse tempo todo. pensei em desistir, quis começar tudo de novo, olhei para as coisas que fiz e achei uma merda, enfim. mas né, tamo aí. é bom passar por essas coisas porque você sempre precisa reaprender a viver depois de cada uma delas, e acho que isso é uma das maiores belezas da vida.

é isso aí! tomara que 2010 seja tão lindo quanto 2009.

08 dezembro, 2009

Rebobine

As moscas voam ao redor de uma velha fruteira, uma antiga e empoeirada fruteira verde cor de mosca mesmo, daquelas gordas, pesadas e com um brilho meio furta-cor, que quando aparecem as avós diziam que anunciavam morte. A fruteira, tão sozinha, coitada, tinha com ela umas três batatas somente, que nem frutas eram, mas ela parecia se contentar mesmo assim: cumpria sua função de portar coisas. Nostálgico.

E onde foi que eu vi isso? Era em alguma cozinha escura, talvez meio verde também. Ou então o que eram verdes eram os arames das cadeiras da varanda. Ou os baldinhos com que as crianças brincavam na terra com as mães se desesperando porque lá poderia ter alguma doença. Não sei se isso me dá saudade. É só um quadro vívido na memória. Com cor marcada: lembrança esverdeada.

O que entendo é que se tudo parece estar certo, é só olhar um pouquinho mais para baixo para ver as coisas erradas - podem estar debaixo do tapete. Mesmo assim, lá vem outra coisa que as avós costumavam dizer: "Se alguma coisa parece errada, é porque você olhou demais".

Engraçado é que a todo tempo dizem que sentir culpa pelo passado é uma coisa fora de moda. Não sei, pressinto que essa nova onda de breguice dos anos 80 tenha reavivado nossas saudades e nossos remorsos. Como se vivendo tudo de novo, a gente pudesse mudar alguma coisa. Quem sabe um detalhe aqui, outro ali, e então talvez algum dia a gente chegue aos anos 2000 de novo, mas dessa vez da maneira certa. Sem perdas pelo caminho.

Acho mesmo é que eu andei me perdendo nesses tempos tão entediantes. A culpa está justamente nisso de se perder cada vez mais, mesmo pensando em voltar, e ainda assim cada vez caminhando, caminhando mais à beira do abismo. É tão bonito olhar pra baixo. Acho que a culpa está, na verdade, nessa espera por algum deus ou algo que o valha que saia de suas terras ancestrais, montanhas ou campos, e me tome pela mão e me conte todo o por-vir, ou que pelo menos me olhe nos olhos com seus olhos de tigre branco e me assopre um segredo indígena, que sele minha boca e meus ouvidos e só me deixe ali por um tempo, só me deixe.

25 setembro, 2009

diferença de pronomes:
ele era o cara;
ela era uma menina.

15 agosto, 2009

eu queria que você ficasse doente, não por maldade, juro, mas se você ficasse doente, tudo seria mais fácil. eu não teria medo porque você estaria ali nos meus braços e dependeria de mim, e eu seria tudo o que você tem por alguns poucos dias, é, seriam dias, também não quero sua saúde ruim por muito tempo.

eu te faria um cappuccino, tiraria o cigarro da sua boca e te enrolaria no cobertor como um casulo, pra que o calor te fizesse companhia sempre, e não o frio que está habituado a sentir naquelas manhãs tristes. então ficaria só observando a tensão dos seus traços se descomplicarem, até que viria aquela cara. aquela cara de sonho bom. me deitaria ao seu lado, sem coberta, e quem sabe assim eu ficaria doente também e você cuidaria de mim.

23 julho, 2009

encontros e despedidas

a estrada é o lugar mais solitário que existe. lá ninguém tem pátria, lá ninguém se conhece: todo mundo está indo para algum lugar. o passageiro do meu lado chora e eu não percebo. eu também não sei quais são as velhinhas que se assustam com cada luz alta que aparece no outro sentido, qual delas vê a morte correr ao lado do ônibus e quais são corajosas e só querem chegar. um ônibus todo lotado e nenhuma palavra, apesar de ser o universo maior do mundo, compreendido em alguns raros olhares de inquietação. tantas coisas querendo ser ditas, mas as palavras se calam antes mesmo de nascerem. uma ideia errada, quase sempre de ansiedade, junto com um ronco, vez ou outra corta o silêncio. divide o tempo em dois, três, quatro...

uma vez meu pai me disse pra ouvir com atenção uma música que a elis canta, que diz que todos os dias a vida se repete na estação, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. são só dois lados da mesma viagem: o trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também de despedida.

venha me apertar, tô chegando!

22 junho, 2009

Balada

Sangrar-me inteira, não de doer mas de felicidade, para me doar inteira, retirar cada pequena coisa que me compõe, todos os pequenos cantinhos do meu ser, puxar as veias, as artérias, tirar cuidadosamente cada fio de cabelo, e até cada uma das unhas, que tanto me angustiam, remexer as tripas, vazar as lágrimas, a saliva e o suor, bem como todos o ácido do estômago, junto com seus antiácidos e os remédios pra dormir e as pílulas para parar de sangrar (parar de tomá-las). Arregaçar todas as fraturas expostas e também as da minha alma, todos os pequenos momentos em que eu sabia que estava feliz e os outros em que quis morrer, quando senti pena de mim e quando tive saudades. Melhor: todas as vezes em que estive tranquila. Todo o meu desespero, meus impulsos, meu querer maior do mundo, tudo que me assusta e me faz puxar a coberta na hora de dormir, tudo que eu mais amo. Meus arranhões nostálgicos no joelho e minhas mãos rabiscadas, meus olhos ruins, minhas ideias cansadas, meu eterno medo e minha admiração por tudo que tem qualquer coisa de vivo. Toda a minha ternura, minhas coisas boas, meu sorriso, aquilo que se sente quando vê o mar, meu sono, meus sonhos... Empilhar com carinho todas as partes à sua frente e fitá-la por um ou dois segundos antes de eu, essência, me juntar a ela. Tudo quanto sou ou já fui, tudo que poderia ter sido mas não, o que vou ser, tudo embalado em fita amarela, pra te entregar.

12 junho, 2009

tudo tão bom, tudo tão bom, tudo tão bom

o contorno dos prédios ao amanhecer preenche os olhos. o barulho dos pássaros brincando dá naturalidade ao concreto. é tudo tão coeso e tão bom que sinto até um agradável aroma que recorda os tempos de infância. talvez sopa. é isso. sopa da vovó, com legumes. e tudo se completa com essa melodia. uma sinfonia completa. bravo!

gostaria que tudo isso estivesse lá quando o dia amanhecesse. e um desesperado ato diz para me manter ativo, mas as forças físicas me forçam de tal maneira que não resisto.

e acordo, e lá está o prédio. lá estão os trabalhadores. lá estão os pássaros, as nuvens, a vovó cozinhando na janela e o vizinho a treinar violão. tudo uma plena sinfonia, desesperada para ser ouvida.

por pupo, em um dia especial

07 junho, 2009

passado no céu

conversávamos hoje sobre uma ideia do barthes, que diz fotografia é a imortalização de um momento impossível. porque quando você tira uma foto para eternizar alguma cena, você não está vivendo a tal cena. você está fotografando. e aquilo que fica no papel é apenas uma fração de instante que nunca, nunca mais vai existir de novo, só foi real por pouquíssimo tempo. é como olhar para o céu e ver as estrelas que já morreram ou então para uma árvore que ainda conserva as folhas secas: é ver o passado.

ah, eu sou só um grande coração, deixa pra lá.

27 abril, 2009

Abismo

Voando ao meu lado está ele, me olhando com olhos que não sei o que querem dizer. Me toca a mão enquanto atravessamos o oceano.

Em cima de mim está ela, tão fraca, tão triste, mas tão alto e sempre acima. Olha pra mim pra ver se estou bem e para os lados por medo. Voando assim, nem parece aquela de antes, que só se arrasta, mas nunca por querer.

Mergulhamos no abismo e aí eu vejo todos os que voam atrás, me seguindo, e essa liderança não é por merecimento ou escolha, é só porque o sonho é meu. São todas as pessoas do mundo. Todos que um dia já cruzaram meu caminho, mesmo que eu não tenha reparado em seus rostos. Os amores, as tristezas, as decepções, aqueles que seguraram minha mão e os outros que me disseram coisas ruins, mesmo sem querer. Todos os personagens de livros que se tornaram companhia para a solidão, os ídolos, os cantores tristes com suas músicas de partir o coração, os professores que me falaram para ir em frente e também os que não sabiam meu nome, os cachorros, os gatos, os coelhos imaginários... Eles vão me seguindo para onde vou e o peso nunca é forte nos ombros. Porque eles estão atrás de mim, apesar de ainda assim me dizerem sempre a direção.

16 abril, 2009

As flores do vento chamam meu nome e sussurram que lá o tempo é mais doce. Mas há um nome gravado em minhas pálpebras que deixa tudo mais pesado, e mais denso, e mais escuro, e o nome também está cravado em meus dedos e se imprime em tudo que toco e vejo, e me impede de ir.

Olho para os lados e o vento sopra e diz coisas bonitas, mas percebo que os móveis do quarto estão todos no teto, as janelas estão abertas, e todo mundo está lá, e querem sair, e me puxam para a janela, e os móveis todos caem, e tudo é tão bonito, e colorido, e festivo, e todos se jogam pela janela e sopram pra onde o vento vai, e tudo dança ao meu redor, me pegam pelo braço e assopram em meu ouvido, e dizem 'vem', que quando olho pra mim estou inerte, ridiculamente inerte, e todos já se foram, cada um para seu canto, soltos, e eu fico, e eu choro.

'É o crepúsculo', dizem, e tudo parece bom e correto, eu tenho que ir, tenho que sair, mas o nome está lá, em tudo, e até ele me olha e diz 'vai', mas há o peso, ah, o peso, porque o nome sempre muda de nome, e o que se fez de toda a leveza do mundo? Deve ter morrido junto com meu avô, que quando foi não disse nada, mas não deixou dúvidas, não deixou tristeza, não deixou quase nada a não ser poucos e vagos gestos, apenas um 'oi, negona' e alguns livros e mapas, quem sabe esses mapas algum dia me levem até ele, pois são mapas dos céus, mas quem sabe esses mapas não levem a lugar algum, só a um terço que persiste, que é jogado, perdido, achado, mas sempre está lá, e isso dá tantas esperanças a um coração tão cansado de ter esperanças.

Se apenas eu fosse, e se tudo parasse, mas o vento é tudo que mais desejo, que é sossego e desespero, que então pergunto o que foi feito de toda a calmaria do mundo? Foi-se junto com ele, e de todos os outros que saltam pelas janelas e vão embora, mesmo os que não sopraram com o vento e ainda estão por perto, mas se foram, e essa leveza, se essa leveza existisse, se eu pudesse sentir, mas ela só leva tudo embora e me deixa aqui, porque há esse nome pesado sempre mudando em minhas pálpebras e em meus dedos, e em tudo que toco e vejo, e tudo que sinto e desejo, nos sonhos e em todas as pequenas coisas, mas eu acabei me afeiçoando a ele, o peso fica aqui, porque sem ele tudo seria mais leve e então eu não saberia o que fazer, eu fugiria de novo, e mais uma vez, sempre procurando o leve escondido, mas tudo acaba se tornando pesado. E não acaba, não acaba.

08 abril, 2009

você inspirou as cores

01 abril, 2009

É como acordar quando todos já foram dormir. Abrir os olhos, ver aquela luz que caminha pela fresta da cortina e sentir a respiração profunda da casa, em que cada mínimo gesto carrega o horror de ser alto o suficiente. Acordar e sofrer o silêncio asfixiante da noite finda; ouvir a música desajeitada dos primeiros pássaros que - coitados - não tiveram chance de gargarejar ou pigarrear antes de cantar.

E duvidar da cor do céu e das pessoas que acordam cedo, duvidar se se está acordado ou se esse cenário lânguido só existe realmente em sonhos,

- esse pequeno espaço entre alguns instantes de tempo - que horas esse momento é real? -,

o vôo desajeitado de um mosquito do calor; o alaranjado das lâmpadas da rua virando sol. Os passos fúnubres pela calçada, o arrastar-se automático de quem faz o mesmo percurso todos os dias, todos os dias 365 passos e não se passa um ano, mas se chega até o ponto de ônibus, uma corridinha para atravessar a rua e aí não dá pra contar os passos, pois variam, e mais alguns outros tantos, em outros locais e por outros pés, todos caminhando diferentes números para chegar ao mesmo lugar.

Todos indo e você acordando. A casa suspira, e se incha e retrai tanto que chega a parecer um quase-murmúrio. Algum movimento ao fundo - será gente? O caminhão de lixo que passa vagaroso, lúgubre. E um cheiro de saudades tão forte nos lençóis... Então talvez você pense: "Passo tanto tempo aqui, nesta cama, que muito de mim já deve ter ficado nas fronhas, e no canto da parede, e na pontinha do endredon onde encosto a boca, que assim, quem sabe, se um dia eu não dormir aqui, a cama sonha sozinha".

26 março, 2009

tudo perdido, o corpo cansado, o colapso, as expectativas grandes, e tudo que se quer é um abraço de qualquer pessoa do mundo, as músicas e os filmes e os comerciais de margarina só te fazem chorar, e o travesseiro te faz chorar, e o olhar do gato te faz chorar, e as pessoas te fazem chorar, e o mundo te abraça e você não agüenta de falta de ar, e o mundo te judia, e uma frase solta de um quase-refrão em um carro qualquer te mareja os olhos, e mareja o estômago, e alguém que te lembra outro alguém em algum lugar e te lembra uma situação específica, e essa situação era tudo que você queria, e esse alguém te lembra tanto e ao mesmo tempo significa tão pouco e tanto, e esse alguém te lembra tudo que você foi e ficou pra trás, e você fica feliz, e você não agüenta mais, e então esse alguém aleatório te abre as portas da sensibilidade de novo, e você chora sem saber por que, mas sabendo sim, que é por tudo que nunca mais vai existir, mas que já esteve tão presente e tão palpável, era uma coisa tão palpável que inundava tudo, mesmo só existindo em um lugar específico e nem sendo real, só que isso te pega pelas entranhas e você se pega pensando em como kerouac estava certo quando dizia que toda escrita deveria ser instantânea, mesmo com o tanto de clichês que isso acarreta, porque esse monte de clichês é tudo que nós somos e que nos foi ensinado desde que éramos crianças e não tínhamos noção de nada dessa vida e que nunca nem suspeitávamos que um travesseiro nos faria chorar ou muito menos que um dia nós deitaríamos em um chão frio ouvindo uma só música no repete e em todo refrão você choraria, não por causa da letra, mas porque ela te passa tantas emoções com apenas um ‘ooooh’, e você sabe que essa escrita sem pontos e nem parágrafos é o maior clichê que poderia existir, só que de uma forma ou de outra é apenas tudo o que você sabe fazer, pois as coisas vem chegando e não há tempo para pontos e parágrafos e muito menos para estruturações e escolher palavras para não repetir, e nem para sinônimos e nem para quase nada do mundo, para quase nada do mundo há tempo, há tempo, sim, para tudo que não precisa e não tem razão de ser, mas você escolhe usar esse tempo para se lembrar e sofrer, e ouvir músicas deitado no chão do quarto, quando tudo o que você queria mesmo era sair por aí à noite sozinho, talvez ouvindo a música em algum fone de ouvido, ou na cabeça, ou ao longe em alguma festa qualquer, mas tudo que acontece é ficar parado, parado, e lá se vai mais um dia, e você não viu as pessoas que queria ver, mesmo as que você não conhecia e que cruzaria, por acaso, em alguma esquina, ou sentaria do lado no ônibus, e quem sabe essa pessoa estaria usando o seu tempo também para lembrar e sofrer, e talvez você olhasse para os seus olhos e por uma fração de segundos haveria uma lágrima, mas você não perceberia, porque você nunca encara as pessoas na rua ou em ônibus, pode ser constrangedor por algum motivo qualquer, e essa pessoa não choraria em lugares públicos, porque pode ser constrangedor por algum motivo qualquer, mas e se não fosse, e se você visse, e se houvesse coragem, e se as mãos se tocassem, por um segundo que seja, seria um segundo que valeria uma vida, mas não existe, só existem pessoas que se parecem com outras e te lembram alguma coisa e te fazem chorar pelo simples fato de não existirem mais, e aí tudo se perde

e então vem a vida e te abraça mais uma vez.

11 março, 2009

Brilho eterno

Eu provavelmente não devo ter medo maior do que o de esquecer. Talvez tenha tanto medo porque sei que isso está muito presente na minha vida, esse negócio imbecil de ter sempre um turbilhão de pensamentos na cabeça que vai passando por cima de todas as coisas que eu gostaria de lembrar depois. Às vezes são coisas estúpidas, como o nome do cara que que atuava no Mistério da Economia no período da ditadura (depois de googlear, vi que é Delfim Netto). Outras vezes são coisas realmente importantes, como uma história interessante que se passou comigo ou com algum dos meus amigos. Ou alguma piada. Ou alguma teoria maluca espírita do meu pai.

Fato é que esses dias vi na Nobel um livro que se chama "Onde deixei meus óculos?" e tive muitas ganas de comprar. Cheguei a ler alguns trechos e já ia me preparando para perder R$49,90 da minha poupança quando vi que ele era destinado a um público muito específico: os idosos. Bem, eu tenho 21 anos. Não que eu já tenha perdido meus óculos, mas acho que isso seria realmente a gota d'água. Enfim, coloquei o livro de volta na prateleira e fui disfarçar a minha frustração dando uma olhada na seção de variedades.

Não que eu tenha tido grandes problemas com a falta de memória, do tipo perder compromissos importantes ou ser relapsa na faculdade ou no trabalho. Eu sou bem responsável nesse sentido. Mas as coisas que realmente interessam estão indo embora, sumindo com o vento. Chega ao ponto de, depois de uma coisa bem memorável, eu parar tudo e prestar muita atenção ao meu redor: como está a luz, o cheiro, as cores, a cara das pessoas naquele momento, o que eu estava sentindo... Mas daí acaba que eu vou me lembrar só desse quadro específico que eu montei, e não do emaranhado de coisas e acontecimentos que me levaram a pensar que dada situação precisaria guardar na memória.

As pessoas me contam seus medos e é sempre mais ou menos a mesma coisa: medo da morte, de ficar sozinho, de não amar mais ninguém, de mimimi, de blablablá. Mas nada nunca vai superar o medo do esquecimento. Porque daí pra quê vida? Pra quê viver? Pra quê sofrer tanto, amar tanto, se nem isso vou levar comigo? Por quantos caminhos vou precisar passar, quanta gente vou ter que conhecer, quanta monotonia vou ter que aturar, quantos perrengues vou ter que aguentar, pra um dia tudo ir embora? E o pior, aos poucos. Minhas coisas já estão indo. Alguns momentos eu faço tanta força pra manter sempre vivos na memória que acho até que acabo fantasiando um pouco. Lembro de coisas que nem vivi, a partir de fotografias que minha vó mostra.

E é um saco isso. Tentar lembrar uma coisa simples e não conseguir. Daí faço força, tento, e nada. Até cheguei a pensar que tenho esse problema de memória um pouco por preguiça, porque posso sempre perguntar a alguém do meu lado para ter a resposta. "Como é mesmo aquela palavra? Escarafuncho?", aí a amiga não sabe, eu googleo e é, pois é, realmente, escarafunchar é remexer na terra como as galinhas (definição do Priberam), investigar, procurar com minúcia. Enfim. Fazer o que eu faço com essa minha memória enferrujada.

Coisas, não se percam por aí. Pequenos momentos que eu tanto prezo, não me abandonem. A vida já é tão fugaz... Se eu perder essas pequenas felicidades, nem sei o que será de mim. Afinal, precisava dormir, mas estou escrevendo aqui para não esquecer amanhã de tudo quanto eu queria dizer hoje.

"Feliz é o destino do inocente,
Esquecido pelo mundo que ele esqueceu
Brilho eterno de uma mente sem lembranças".

(Alexander Pope)