a estrada é o lugar mais solitário que existe. lá ninguém tem pátria, lá ninguém se conhece: todo mundo está indo para algum lugar. o passageiro do meu lado chora e eu não percebo. eu também não sei quais são as velhinhas que se assustam com cada luz alta que aparece no outro sentido, qual delas vê a morte correr ao lado do ônibus e quais são corajosas e só querem chegar. um ônibus todo lotado e nenhuma palavra, apesar de ser o universo maior do mundo, compreendido em alguns raros olhares de inquietação. tantas coisas querendo ser ditas, mas as palavras se calam antes mesmo de nascerem. uma ideia errada, quase sempre de ansiedade, junto com um ronco, vez ou outra corta o silêncio. divide o tempo em dois, três, quatro...
uma vez meu pai me disse pra ouvir com atenção uma música que a elis canta, que diz que todos os dias a vida se repete na estação, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. são só dois lados da mesma viagem: o trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também de despedida.
venha me apertar, tô chegando!
23 julho, 2009
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