24 junho, 2007

O vento percorre meus cabelos, explorando cada fio, desnudando-os. O movimento parece uma dança assimétrica, bonita porque é caótica. E caótica por ser bonita.

Entretanto, totalmente alheia à arte abstrata e fugidia que se descortina ao meu redor, me pego pensando nos seus pensamentos. De algum jeito, eles têm um quê de vento. Brincam comigo e me desvendam, mais do que eu gostaria e mais do que eu mesma sei de mim. Se eu conseguisse alcançá-los... Na verdade, não me importo. Jogo o jogo.

Às vezes acho que te tenho na palma da mão. Que conheço cada vírgula do seu espírito. Outras vezes, me perco no seu olhar e simplesmente não encontro saída. Você me aprisiona sem se dar conta disso. E então rio bobamente, me preocupo por não te entender. Sinto que a imagem que tenho de você torna-se funda, profunda. Com cenário, passado, futuro, figurantes, detalhes, erros. Crio histórias, invento fugas, determino cada frase da nossa conversa. E assim, mais uma vez, concluo a minha estupidez com a certeza de que nunca vou te conhecer por inteiro. E nem quero. Me encanta (e mortifica) a idéia do enigma.

Dá vontade de parar o tempo agora para tudo continuar assim, perfeito. Como as pessoas que perdem a visão com determinada idade e só se lembram dos conhecidos com a mesma feição que tinham na época do incidente. Não há envelhecimento. Se eu perdesse a visão agora, queria ver pra sempre o seu olhar, fundo, que me perfura e aterroriza, seu olhar triste, sereno, o olhar que pensa que eu não vejo, o mesmo olhar que eu quero acreditar que é diferente de todos os outros.

Seria a imagem mais doce que eu poderia ter comigo até a minha morte. Quando me chateio com você, é pelo fato de ainda não te entender do jeito certo. Não quero te entender nos meus moldes, te comparar a mim, que é a maneira mais fácil de dizer "Eu entendo". Quero sentir a dor que você oculta, fazer as mesmas ligações. Te compreender por te conhecer. Todos os seus piores defeitos. Vou sofrer, mas sentirei que estarei maior. Porque a maior grandeza da vida não é tentar ser perfeita, mas me aceitar por aceitar os outros com resignação. Passar do egoísmo para o auto-conhecimento. Por mais pleonástico que possa parecer.

Quero te ver assim, distante e cheio de mistérios. Que é a maneira mais altruísta de te amar.

7 comentários:

carla cursino disse...

Na verdade, não lembro de ter lido esse texto no seu antigo blog. que bom que você postou ele aqui. Quando leio coisas assim,recupero a minha essência, a minha crença, os meus valores. Tudo em que acredito resumido em algumas palavras.

E você, dona Audi, é uma das pessoas que mais entendem de liberdade que eu conheço. Acho que você entendeu a minha visão de amor, aquela que te ontei dia desses.

Um beijo grande!

carla cursino disse...

digo, contei*

Fábio Pupo disse...

Merecia ser publicado de novo mesmo.
Bjos!

Fábio Pupo disse...

Ah, pode me chamar de Fábio Conselheiro.

Unknown disse...

Que foto psicodélica!
E nem estou bêbado!

Unknown disse...

Que foto psicodélica!
E nem estou bêbado!

Unknown disse...

Acho q estou sim!
Comentei duas vezes!
(três com essa...)