27 janeiro, 2009

Monotema


Dando uma pausa no revival do Diazepam, um textinho bem bobo de uma madrugada qualquer.


Não sei amar. Ou sei no mesmo tanto em que sei outras tantas coisas - mal e porcamente. Por exemplo, posso dizer que entendo de política, mas na verdade tudo que tenho são algumas opiniões quase que cravadas em pedra, que não seguem muito bem um parâmetro de coerência. Sei que sou de esquerda, mas do jeito que as coisas estão, fica difícil apontar o que é esquerda e o que não é. Se eu disser, também, que entendo de música, caíria no mesmo ciclo vicioso. Digo que gosto de música boa, e aí se encaixa um pouquinho de tudo. Mas música boa é puro gosto pessoal. E eu que até pouco atrás só ouvia música 'velha', ou como diz meu amigo Pedro, "de gente que já morreu"... Faz pouco tempo que eu realmente perdi o preconceito com os artistas mais novos. Já cheguei a dizer que Radiohead é som pra querer morrer e que todo o rock de hoje é só um amontoado de guitarras e baterias ritmadas de modo a fazer dançar (e vender). Quanto sacrilégio...
Enfim, não sei amar. Não sei nem se alguém sabe, mas me parece que sim. Pelo menos isso é uma coisa que me atormenta o dia todo. Tem gente que realmente parece saber o que fazer, onde colocar as mãos, o que dizer, quanto tempo esperar, em que momento calar. Bom, da mesma maneira todo mundo parece estar se fodendo o tempo todo. Digo no sentido de se dar mal mesmo. Todo mundo que eu conheço tem uma ou duas ou mil histórias de corações partidos e dor imensurável. Por isso que digo: é difícil de acreditar que a sua alma gêmea vá aparecer justamente na sua vida. Ou que ela tenha nascido em algum lugar próximo a você, ou que trabalhe no mesmo lugar que você, que tenha a mesma idade, os gostos parecidos, que fale a mesma língua, que seja do sexo oposto... Não, teria que ser muita coincidência. Não é possível. E também, se isso por ventura acontecesse, você iria estragar tudo.
Eu sinto amor, mas não é por uma pessoa só ou por uma determinada coisa. É um amor destrambelhado, como um elefante em uma loja de cristais. Segue torto e atropelando tudo, quebrando tudo, deixando dívidas, dando enormes dores de cabeça. Porque não se contenta com um alvo só - "bom, já que quebrei um copo, que quebremos todo o resto". E vai assim.
Meu amor pode ser resumido em um velhinho tocando sanfona na Praça Osório. Ou então em um gordinho chorando. Ou naquele momento em que as pessoas se tornam únicas. Poderia ser um sorriso banguela. Um cão preso à coleira. O terço no túmulo do meu avô.
Fico vendo essas pessoas que sabem falar das coisas que gostam. Eu não sei de quase nada. Sei que tenho uma grande tendência à melancolia, e até sinto falta dela em momentos de felicidade monótona. Queria falar sobre tudo quanto gostaria de entender, mas insisto em voltar ao mesmo tema que menos entendo no mundo, que sou eu e minha grande estupidez.

Um comentário:

Flávia S. disse...

Sei nem o que dizer. Acho que passei dias tentando falar exatamente isso que você acabou de dizer. Obrigada.