As flores do vento chamam meu nome e sussurram que lá o tempo é mais doce. Mas há um nome gravado em minhas pálpebras que deixa tudo mais pesado, e mais denso, e mais escuro, e o nome também está cravado em meus dedos e se imprime em tudo que toco e vejo, e me impede de ir.
Olho para os lados e o vento sopra e diz coisas bonitas, mas percebo que os móveis do quarto estão todos no teto, as janelas estão abertas, e todo mundo está lá, e querem sair, e me puxam para a janela, e os móveis todos caem, e tudo é tão bonito, e colorido, e festivo, e todos se jogam pela janela e sopram pra onde o vento vai, e tudo dança ao meu redor, me pegam pelo braço e assopram em meu ouvido, e dizem 'vem', que quando olho pra mim estou inerte, ridiculamente inerte, e todos já se foram, cada um para seu canto, soltos, e eu fico, e eu choro.
'É o crepúsculo', dizem, e tudo parece bom e correto, eu tenho que ir, tenho que sair, mas o nome está lá, em tudo, e até ele me olha e diz 'vai', mas há o peso, ah, o peso, porque o nome sempre muda de nome, e o que se fez de toda a leveza do mundo? Deve ter morrido junto com meu avô, que quando foi não disse nada, mas não deixou dúvidas, não deixou tristeza, não deixou quase nada a não ser poucos e vagos gestos, apenas um 'oi, negona' e alguns livros e mapas, quem sabe esses mapas algum dia me levem até ele, pois são mapas dos céus, mas quem sabe esses mapas não levem a lugar algum, só a um terço que persiste, que é jogado, perdido, achado, mas sempre está lá, e isso dá tantas esperanças a um coração tão cansado de ter esperanças.
Se apenas eu fosse, e se tudo parasse, mas o vento é tudo que mais desejo, que é sossego e desespero, que então pergunto o que foi feito de toda a calmaria do mundo? Foi-se junto com ele, e de todos os outros que saltam pelas janelas e vão embora, mesmo os que não sopraram com o vento e ainda estão por perto, mas se foram, e essa leveza, se essa leveza existisse, se eu pudesse sentir, mas ela só leva tudo embora e me deixa aqui, porque há esse nome pesado sempre mudando em minhas pálpebras e em meus dedos, e em tudo que toco e vejo, e tudo que sinto e desejo, nos sonhos e em todas as pequenas coisas, mas eu acabei me afeiçoando a ele, o peso fica aqui, porque sem ele tudo seria mais leve e então eu não saberia o que fazer, eu fugiria de novo, e mais uma vez, sempre procurando o leve escondido, mas tudo acaba se tornando pesado. E não acaba, não acaba.
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2 comentários:
meu, nem sei o que falar. lindão.
não tenho tempo.
mas sonhei demais certos 24 anos de vida... e fugir sempre me pareceu ser a melhor alternativa.
nunca fiz minhas malas, porque para o mundo qual eu iria era só imaginar que as coisas apareciam.
é um peso, quase um fardo, esperar por tanto tempo.
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