Como queijo e goiabada - foi assim que você definiu. Eu sou o queijo. Minas. Aquela coisa que só serve para quebrar o doce doce. Mas não foi só isso, você disse muitas outras coisas. Disse, por exemplo, que o mais chocante não é a morte da criança no final do filme, mas sim viver em um país em ruínas. Eu não entendi.
Você pegou na minha mão e explicou que depois de toda calmaria vem a tempestade, e nunca foi o contrário. As avós estavam erradas, afinal de contas. Todas elas. Acho que eu ainda não entendia quando você tranquilamente me falou sobre todas as coisas do mundo em algumas poucas palavras. Eu ouvia e pensava 'uau, é exatamente isso, esse é o mundo', e então você advertiu: 'Não crie grandes convicções. Se o dia está bonito, é hora de fugir'.
Um dia eu estava olhando um grande livro com figuras. Você chegou perto, com um misto de curiosidade e arrogância, e me perguntou o que eu estava lendo. Respondi que não lia nada, só via as imagens. Você disse 'pois é, é assim que você é. Bem fácil de entender'.
Foi aí que eu percebi -
No meio de escombros, não existe o bom, nem o certo, nem o bonito, não existe nada, só uma grande lacuna. Tipo aqueles tracinhos da forca, que você sempre adivinhava por que dizia as vogais primeiro. Mas as ruínas não têm vogais.
E as certezas, das certezas sobrou um filete de pedras de tudo o que era grande. Quem sabe pra algum adolescente com espinhas ouvir e pensar 'sim, esse é o mundo', e aí sair pra tomar um milk shake.
O moço do filme falou 'Antes nós éramos os socialistas nacionalistas' - e inflava o peito, antes de completar, com profundo desgosto: 'agora somos os nazistas'. Esses somos nós.
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3 comentários:
Liiiindo seu post, adoreeii \o
O blog é simples, mas é digno de ser visitado! Adoreeiii!
Audi, você anda muito poética :D
audi, li sua resenha hoje e emocionei. aí li esse post e constato de novo: tu tá cada vez melhor nesse negócio de escrever.
beijinho!
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