Para ler ouvindo Laika, do Arcade Fire:
Quando a aeronave de Laika pousou suavemente no mar, seu banco se ejetou. Era perto da praia, então nadou até a areia. Sacudiu o sal, cheirou tudo ao redor. Não sabia onde estava, mas era feliz por ter voltado.
Começou a caminhar pela areia. Grossa, preta, com grandes pedras cor de terra escura, bem puxado pro tom de tijolos. Pulava de uma pedra para o chão, e depois outra, outra e outra, em um ziguezague sem fim. O céu era vermelho, cor de vinho. As nuvens, rosas, dançavam frenéticamente com a força do vento. Estava frio. Ia anoitecer.
Laika queria muito encontrar alguém. Sabia que, quando a vissem, iriam se lembrar de seu grande feito - afinal, fora a grande desbravadora do espaço sideral. Sua caudinha balançava suavemente, pois estava tremendamente orgulhosa de sua aventura bem-sucedida.
A noite chegara tão rápido como quando o foguete saiu rasgando da base. O vermelho tornou-se roxo, bem escuro. Ela caminhava sem parar, mas não encontrava viva alma. Chegou ao que parecia ser uma cidade fantasma. Os prédios eram altíssimos e realmente assustadores. Muita coisa havia mudado desde que partira ao infinito: nada lembrava seu antigo lar, nem de longe. Além das ruas vazias, o clima era pesado e havia um cheiro muito forte de podridão.
Todos estavam mortos. Todos. Não havia árvores, pessoas e nem outros cachorros. Só alguns ratos bem pretos e oleosos, que a olhavam de longe, soltavam um grito esganiçado e se entocavam novamente.
Seu passo vagarosamente perdeu o vigor.
Então percebeu o que fez as coisas mudarem: o tempo havia passado. Ela retornou exatos 234 anos depois de sua partida. E era como se estivesse se ausentado por apenas alguns dias; seu pêlo ainda era bonito e brilhante, seus olhos eram vivos, seu jeito de cachorra era como o de antigamente, quando ainda buscava bolinhas atiradas. O tempo não passara para ela, mas tinha sido absolutamente cruel com todas as outras coisas do mundo. O apocalipse havia acontecido debaixo de suas patinhas e ela não tomara conhecimento.
Laika estava sozinha no mundo.
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2 comentários:
Eu li ouvindo essa música, hehe!
Lembrei de um livro que li quando tinha uns 11 anos chamado "Sozinha no mundo".
Até poderia ser assim, mas a Laika foi para a caixa de brita logo que foi mandada em órbita. Sei que esses comunas não comem criancinhas de fato, mas nada disseram a respeito de fazer maldade com animaizinhos. Agora, é interessante imaginar como é a morte por estresse. Não deve ser algo muito agradável. Acho que você poderia escrever um texto da Laika no céu servindo de cão de guarda de são pedro e botando os cientistas russos falecidos pra correr.
:D
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