Remoto controle. Bem remoto. Por mais que eu tente observar as coisas com um certo distanciamento, não me envolver demais, percebo que aí está o grande desafio (principalmente considerando a profissão que escolhi): a verdade é que eu amo demais as pessoas. Não o amor caridoso que é aquilo de amar para gostar mais de si próprio; não, é ao contrário, é amar sem querer amar. É odiar amar, mas continuar amando.
Amo a todos, muito e apaixonadamente. Amo as pessoas que andam de ônibus e enconstam a cabeça no vidro para descansar; amo as crianças que comem algodão doce usando as máscaras de Bob Esponja que vêm na embalagem; amo os velhinhos que cheiram a armário e ficam sentados em uma pracinha o dia inteiro, a observar o movimento; amo tudo aquilo que me dá medo, que é essa vida normal e cotidiana que todos nós vivemos. É, realmente, uma relação de amor e ódio. Como apreciar essas coisas tão medíocres? Não sei.
Não sei explicar. Só sei que amo. Os bêbados e sua constante vergonha; os pobres e sua revolta; os frentistas dos postos que trabalham de madrugada; os atendentes de telemarketing; todos os malditos que a Iasa conta. Tanto amo que sinto vontade de beijar cada um deles, a sua dor pungente, de lhes dar a mão e mais o braço, e beijar-lhes também os pés, que são abençoados.
(Original: http://odiazepam.blogspot.com/2008/10/eu-vejo-tudo-enquadrado.html - 22/10/08)
Um comentário:
andei pensando coisa parecida uns tempos atraz
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